Amebíase


Pessoas em situação de vulnerabilidade sempre têm mais chance de se expor a uma doença. Em várias regiões do Brasil, o saneamento básico simplesmente não existe. Isso faz com que uma parte da nossa população tenha que se alimentar, todos os dias, de comida e água com risco de contaminação.

Esgotos a céu aberto, coisa não rara de se encontrar até nas grandes cidades, também causam prejuízos enormes pras pessoas que vivem ao redor. Além dos vírus e bactérias que ficam pelo ar e na superfície de objetos sujos, há um outro ser microscópico que se aloja principalmente em matérias fecais: as amebas.

Amebas são protozoários com pseudópodes, algo parecido com uma para, que auxilia na locomoção e na obtenção de substâncias para que ela se alimente. Há uma espécie de amebas que conhecemos mais, porque elas podem se tornar parasitas do ser humano. Elas são as “endamoebidae”, que podem ser dos gêneros “entamoeba”, “iodamoeba” ou “endolimax”.

Vamos falar aqui sobre um desses parasitas, que causa uma doença muito comum nas regiões mais vulneráveis do Brasil, a amebíase.

O que é Amebíase

A amebíase é uma doença causada, claro, por uma ameba. O nome científico dela é “entamoeba histolytica”. Esse protozoário pode até estar no nosso corpo sem causar nenhum dano, mas quando se aloja no lugar errado e em um organismo fraco, ela pode causar graves infecções no intestino.

O período de encubação da doença dura entre 2 e 4 semanas, e depois do período ela se manifesta através de diarreias e fortes dores no abdômen. Em casos mais graves, a amebíase pode comprometer o tecido dos órgãos, o que pode levar à morte. Cerca de 100 mil pessoas no mundo morrem todos os anos pela doença.


Causas da Amebíase

amebíase

A entamoeba histolytica pode entrar no nosso corpo principalmente por meio da ingestão de alimentos ou bebidas contaminadas ou por relações sexuais sem proteção. Também existe a possibilidade, mais rara, de uma pessoa entrar em contato com fezes que contenham a ameba.

Uma vez dentro do organismo, esse protozoário pode se alojar dentro ou fora do intestino e se tornar um invasor do órgão, depositando cistos, uma forma inativa do mesmo parasita. O cisto pode viver vários meses onde for depositado, por isso ele continua alojado na água, na comida e na matéria fecal.

Esses protozoários geram trofozoítos, parasitas que se alimentam de detritos e bactérias dentro do intestino, causando sintomas desagradáveis no paciente. Os trofozoítos podem gerar novos cistos no intestino ou mesmo em outros órgãos, através da corrente sanguínea, causando um ciclo de infecções. Ele pode causar danos, por exemplo, nos pulmões, no fígado e até no cérebro.

Fatores de risco

Como já dito acima, as pessoas que vivem em área vulneráveis ou em situação de pobreza tem mais chance de contrair a doença, já que têm mais chance de entrar em contato com alimentos contaminados. Mas quem está com a imunidade baixa também está no grupo de risco, tais como:

  • Gestantes
  • Crianças
  • Idosos
  • Alcoólatras
  • Pessoas com câncer
  • Pessoas que utilizam corticóides para inibir o sistema imunológico
  • Pessoas que fazem sexo sem proteção
  • Pessoas que viajaram recentemente para áreas precárias

Sintomas da Amebíase

Como em todas as doenças, há sintomas leves e alguns mais graves. Mas, no caso da amebíase, como o protozoário pode se alojar num órgão sem se tornar um parasita, essas diferenças costumam ser mais acentuadas. De toda forma, se perceber qualquer sintoma listado abaixo, procure um médico:

Leves

  • Cansaço
  • Calafrios
  • Cólicas abdominais
  • Evacuação com sangue, com muco ou pastosa
  • Dor no ânus na hora de evacuar
  • Perda de peso

Graves

  • Febre alta
  • Vômitos
  • Vontade de evacuar mais de 10x ao dia
  • Evacuação líquida e com sangue

Complicações

Se o paciente já sentir os sintomas graves, significa que a amebíase, ou seja, a infecção pela entamoeba histolytica, já pode estar se espalhando para outros órgãos, como fígado, pulmões ou cérebro através da corrente sanguínea. No fígado, por exemplo, o parasita pode causar abscesso hepático.

Nesses casos, é preciso aplicar um diagnóstico e tratamento muito rápidos, pois o quadro pode evoluir para a morte.

Diagnóstico

Além da clínica médica, alguns especialistas estão aptos a diagnosticar a amebíase, como os infectologistas, proctologistas e gastroenterologistas. Esses profissionais, geralmente, fazem primeiro um exame físico e questionamento sobre histórico de saúde.

Depois, podem ser solicitados exames de fezes, em que será observada a presença de trozoítos ou cistos da ameba, ou exames de imagem e análise de tecidos, como a endoscopia e a proctoscopia. Para verificar se há danos no intestino ou no cólon, pode ser pedida uma colonoscopia.

Localizadas infecções ou cortes em algum órgão, o médico deverá solicitar uma tomografia computadorizada ou mesmo uma ultrassonografia do local afetado. Só então o profissional poderá indicar o melhor tratamento.

Tratamento da Amebíase

Nos casos leves, o uso de medicações via oral, por não mais que dez dias, costuma resolver o problema. Além de atacar a amebíase diretamente, podem ser usados remédios para controlar as dores abdominais ou náuseas, por exemplo.

Já quando a doença evolui para situações graves, como quando o parasita invade o intestino ou outros órgãos, será preciso intervir em cada área que esteja infeccionada, sendo necessária a cirurgia em alguns casos.

Medicamentos para Amebíase

  • Benzoilmetronidazol
  • Annita
  • Doxiciclina
  • Flagyl (também em versão pediátrica)
  • Helmizol (apresentação comprimido ou suspensão)
  • Metronidazol
  • Secnidazol

Vale sempre lembrar: nunca se automedique para a amebíase ou qualquer outra doença, inclusive as menos graves.

Prevenção

Como a amebíase é mais comum em ambientes precários, muito da prevenção passa pela higiene e bons hábitos alimentares:

  • Lavar as mãos com água e sabão com frequência
  • Lave os alimentos antes de prepara-los em casa
  • Não beba água direto de torneiras
  • Não consuma produtos lácteos não pasteurizados
  • Não compre comida de rua em lugares que não confia

Como também existe o risco da transmissão através do sexo, não custa lembrar a importância do uso de preservativos em qualquer tipo de relação sexual que se venha a ter.

Também há, claro, a responsabilidade do governo em cuidar para que seus cidadãos tenham saneamento básico e condições humanas de viver em um lugar limpo e com água pura. Por isso, vale que os cidadãos cobrem as autoridades locais para melhorar a situação dos mais vulneráveis.

Prognóstico

Se, ao mesmo tempo em que o paciente seguir estritamente o tratamento e as recomendações médicas, mantiver os hábitos de higiene acima, é perfeitamente possível curar-se da amebíase e viver uma vida normal após a doença. Recomenda-se que a pessoa mantenha a mesma dieta balanceada para o resto da vida.

Junto com os remédios, seja os de tratamento tópico ou os pós-cirúrgicos, é importante que a pessoa evite alimentos gordurosos e beba bastante líquido, pois a amebíase também pode causar desnutrição e desidratação.

Nos casos leves, os sintomas da amebíase costumam durar duas ou três semanas, desaparecendo na primeira semana após o início do tratamento. Mas é importante seguir com acompanhamento médico, porque o protozoário pode retornar ao intestino se não for eliminado completamente pelo organismo.